quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Uma imagem...

Esta imagem é antiga, mas tem um significado enorme para mim!
Criar um filho é fácil. Antigamente os pais criavam um ou outro filho que, por sua vez, criavam os irmãos mais novos. 
Educar é outro papo!
Eu tento educar o Vicente e a Helena todos os dias e é isso que vejo nessa imagem. 
Há tempos, tenho em mente que a educação que pretendo dar aos meus filhos seja diferente da que tive. 
Quando o Vicente era menor errei demasiadamente ao acreditar na máxima amplamente difundida por nossos pais de que "uma hora ele vai ter que aprender" e por isso entrei em uma espécie de colapso mental, do qual só consegui me libertar (pelo menos parcialmente) depois de algumas sessões de terapia. Ainda hoje me pego com esses pensamentos, porém, é necessária uma reflexão sobre alguns aspectos ligados à maturidade mental e neural das crianças. 
Fui educado por meio da autoridade e do não questionamento, de ter que obedecer porque tem que obedecer, do reforço negativo e da relação erro versus punição. Essas características, invariavelmente me fizeram acreditar que esse modelo poderia ser repetido com meus filhos e por que não dizer, seria o ideal, o mais correto a ser feito.
Senti falta durante minha infância de uma figura paterna que se mostrasse como um amigo, um conselheiro. De alguém que eu pudesse chegar e trocar uma ideia e que estivesse ao meu lado quando fosse necessário. 
Acredito nesse tipo de educação! 
Na educação baseada em proximidade. Transfiro esse tipo de pensamento e ação inclusive para com meus alunos.
Hoje procuro ser mais que um pai para o Vicente e a Helena. Penso que a melhor maneira de estreitar relações e fortalecer vínculos é por meio da amizade e da camaradagem.
A estrada para formar o caráter dos meus filhos é longa e possivelmente nunca haja uma estação final, um ponto de chegada. E como esse trilho da Maria Fumaça, não consigo ver muito além da curva. 
O futuro é incerto, mas o que posso ver da estrada me alegra, pois as decisões que tomei em relação à educação da piazada me fazem ver que estamos na direção correta, sem medo de ter que corrigir o rumo durante a viagem, se for necessário.

Forte abraço a todxs!

Roges

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Por que eu escrevo sobre crianças?



Essa é uma pergunta bem interessante!
Poderia falar um monte de coisas sobre as belezas de se escrever sobre a infância, mas a verdade é que esse assunto tem um apelo mais recente.
Desde que me conheço por gente, ter filhos não era uma escolha compatível com a vida que queria ter. 
Talvez (provavelmente) tenha sido em função das minhas vivências e experiências anteriores.
O fato é que a chegada da Mara na minha vida fez com que eu olhasse de modo diferente para uma possível paternidade. O convívio com os sobrinhos dela, as brincadeiras desajeitadas de quem não tinha crianças na família, a necessidade de aprender a tolerar comportamentos característicos dessa fase aos poucos foram sendo incorporados e assimilados.
Quando casamos a decisão de termos um filho foi conjunta, mas a "forcinha" para isso acontecer foi minha :)
A chegada do Vicente veio com um mar de incertezas e muitas vezes a falta de tranquilidade para decidir que atitude tomar, hoje é motivo de uma quantidade considerável de vergonha :(
Sim, me cobro absurdamente quando vejo que poderia ter conduzido algumas situações de uma forma mais amena e menos autoritária!
Tempo atrás a Mara me mandou procurar uma psicóloga (haja vista que não conseguia resolver alguns problemas) e com a terapia comecei a perceber que compreender as necessidades da criança é compreender o processo natural do seu desenvolvimento. 
Toda essa mudança, embora possa parecer simples, está sendo construída dia após dia. Alguns progressos aqui, outras mudanças necessárias ali, sempre pensando em poder atuar de forma mais paternal e menos autoritária possível. É importante considerar que essas mudanças não são apenas de comportamento, mas de paradigmas. Minha educação foi muito diferente da que eu quero para meus filhos e, por isso, há de se fazer um esforço tremendo para combater essa reprodução de modelos.
Mas não é apenas por ter filhos e pela maravilha que é ter crianças crescendo e nos surpreendendo ao nosso redor, que ouso escrever. A partir do convívio diário e intenso com meus filhos pude perceber o quanto é importante que as crianças tenham alguém que as oriente, respeite e cuide.
Resumindo: o modo como tratamos nossas crianças, provavelmente, será o modo como elas cuidarão dos seus filhos quando os tiverem!

Em 2017 assisti uma mesa redonda no Congresso Brasileiro de Epidemiologia que falava sobre a saúde de refugiados, especificamente em crianças refugiadas. Aquilo me impactou de tal maneira que fiquei mais de uma semana remoendo aquelas informações. Famílias que enfrentam a dolorosa rotina de fugir de seus países por questões diversas, carregam consigo a necessidade de sobrevivência, e, naturalmente não têm tempo/possibilidade de pensarem no bem-estar de seus filhos. O que todos precisam é arrumar um jeito de conseguirem sobreviver ao tormento da migração, muitas vezes para locais que não querem sua presença por lá...independente do motivo!
Expostos a uma gama de perigos e aflições inimagináveis para nós, que estamos escrevendo/lendo esse texto em frente a um computador ou smartphone, bem sentados em um sofá ou na fila de espera do médico. Com frequência, o desfecho disso tudo é o pior possível.
Quem esquece daquela imagem do menino de 3 anos que morreu afogado durante uma travessia de barco pelo Mar Mediterrâneo e seu corpo foi encontrado em uma praia da Itália? 











Francamente, não faço ideia de quantas vezes já me peguei cuidando o sono dos meus filhos e, invariavelmente, pensando no número de crianças mundo afora sem as mínimas condições para sequer dormirem tranquilas, por mais sono que possam ter!
Seus filhos sorriem o tempo todo? Os meus, sim.
Mas pense em quantas crianças não tem motivos para fazer isso.

Outro motivo que me inclina a escrever sobre crianças é a violência com que nos deparamos todos os dias.
Frequentemente, ouço pessoas comentando que estamos no fundo do poço em relação a esse tema. Penso que a sensação de insegurança acaba imperando quando consideramos o número total de eventos violentos na sociedade em que vivemos.
Acreditar que estamos inseguros potencializa a percepção da magnitude do evento violento já dizia Steven Pinker. O próprio Pinker escreveu um livro (Os Anjos Bons da Nossa Natureza), uma robusta obra em que, categoricamente afirma: “nunca vivemos tempos tão pacíficos em toda a história”.
Apesar das considerações do autor, convivemos com episódios frequentes de agressões de natureza diversa. Temos - como pais - que tentar driblar isso e passar um ar de tranquilidade aos nossos pequenos, sem esquecermos que um dia eles enfrentarão todas as agruras desse mundo doido que vivemos e seria muito bom se soubessem se defender. Preferencialmente por meio da adoção de uma cultura de paz e resolução não violenta de conflitos.

No rol das variadas manifestações de violência, a comunidade escolar (em sua maioria) tem aberto seus olhos para o Bullying, antigamente chamado de “brincadeirinha” pelos nostálgicos que não se cansam de afirmar que “antigamente não existia essa frescura”.
O Bullying, reconhecido como uma relação desigual de poder é caracterizado por ataques sistemáticos, seja de cunho racista, sexual, homofóbico, físico ou verbal. Estatísticas dão conta que em alguns países (Escócia, Finlândia e Dinamarca) as consequências do Bullying causam mais mortes que acidentes de trânsito. Talvez porque o tema seja um dos pilares da minha tese, hoje enxergo o Bullying como uma maçã podre, que aos poucos envenena as frutas do pé.
Mas nem tudo está perdido!
Promulgada em novembro de 2015 e conhecida como Lei do Bullying, (13.185/2015) trata de estabelecer o Programa de Combate a Intimidação Sistemática, o qual exige que estabelecimentos escolares, clubes e/ou associações brasileiras discutam e elaborem estratégias de combate a esse tipo de violência. Para aqueles que acham que isso tudo é firula, sugiro aos pais que assistam ao documentário “Bullying” que se encontra disponível tanto no Netflix como no YouTube e tentem se colocar no lugar dos pais que perderam seus filhos por não aguentarem mais as humilhações e agressões físicas oriundas de seus pares.
  

Tempo atrás o Vicente chegou em casa e disse assim:

- Papai, não se deve chamar as pessoas de gorducha!
- Ah é?! Por que não?
- Porque isso magoa as pessoas e não é legal.
- É verdade.
- É...e nem chamar de pipoquinha e nem de zoiúda!
- O melhor é você chamar as pessoas pelo nome Vicente. Que você acha?
- Acho muito legal...mas não de pipoquinha!


Provavelmente deva ter ouvido alguém próximo “elogiar” outrem e esse alguém deve ter sido advertido, pois ele foi enfático em dizer que não se deve chamar alguém por apelidos.
Poderia listar aqui muitos motivos mais para vocês entenderem o que me leva a escrever sobre as crianças e suas dificuldades em um mundo cada vez mais adulto, desumanizado e polarizado.
Esse diálogo rolou quando ele tinha 4 anos. Essa semana ele puxou ou assunto do "bully", de algumas cenas que ele tinha presenciado, de algumas vezes que sofreu esse tipo de comportamento. 
Acredito que o cerne dessa questão seja um medo, bem presente, de que um dia  estas coisas aconteçam com o Vicente e a Helena e naquele momento eu não possa fazer nada para amenizar ou remediar a situação.
Creio que esse medo deva fazer parte da vida de muitos pais, que como a Mara e eu, se preocupam com seus filhos ao mesmo tempo que precisam “soltar a rédea” para que conheçam o mundo pelos seus próprios olhos e experiências e assim, poderem empoderar-se diante das dificuldades.

Há de se ter tranquilidade...e caminhar em frente!

Um forte abraço a todxs!

Roges

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Sem filhos, nós (os pais) não existiríamos!

Até poucos anos não acreditava ser capaz de educar uma criança.
Motivo? Simples...meu pai nunca esteve comigo!
Meu pai foi ausente a vida toda. nunca perdeu uma noite de seu rico sono com minhas febres ou minhas cólicas. Em raros momentos nos aproximamos - sempre pela minha iniciativa - e se não atuasse firmemente para manter essa "proximidade" a distância imperava.
Assim a coisa degringolou. Hoje ele não faz mais parte da minha vida e consequentemente,  não faz parte da vida dos meus filhos. Haverá um dia em que eles perguntarão do vô paterno e eu que ser franco em responder que ele nunca quis fazer parte da vida deles.
Uma pena!
Meus filhos me ensinaram (e ainda ensinam) que o modelo de educação de educação que tive na infância não é necessariamente aquele que eles receberão. Ainda bem!
Mas esse texto não tem a intenção de ser triste.
Ao contrário.
O que motivou escrever estas linhas é o fato de que lembrei da primeira vez que ganhei um presente de dia dos pais do Vicente.
Que orgulho!
Que emoção!
Uma medalha de Super Pai e um acessório para pendurar no vidro do carro com os dizeres: "Cuidado! Melhor Pai do Mundo a Bordo" com uma mão do Vicente pintada.
Fiquei emocionadíssimo. Ideia genial das profes da Escola que o Vicente estudava na época. Lembro que ele me acordou de modo bastante sutil. Sim, o Vicente é bastante cavalheiro ao acordar a gente.
- Papai, olha!
Quando abri os olhos ele estava segurando a medalha e disse: "Põe!"
Passei o sábado todo com a medalha no pescoço e quando tirava ele me cobrava para recolocá-la imediatamente.
No meu tempo - e isso faz tempo - as profes diziam:
"Hoje vocês vão fazer e pintar um desenho para dar de presente para seus pais!".
Pintávamos gravatinhas em uma folha A4 e eu achava isso muito esquisito. Primeiro porque na época eu nem conhecia meu pai e segundo porque meu avô (que foi quem me educou) e meus tios não usavam gravata. Como entender isso...
Ser pai é um presente!
Ser pai presente é a coisa mais digna que um homem pode fazer em sua trajetória, pois são seus filhos.
Sangue do seu sangue.
Parte dele próprio.
Parte de seu DNA que é passado adiante para as próximas gerações que povoarão e mudarão esse mundo injusto e desigual em que vivemos.
Um mundo onde milhões de crianças com pais vivos não podem comemorar um dia dos pais pelo simples fato de que um adulto covarde se negou a aceitá-la como parte de sua história, ou a tratou com um "acidente de percurso".
Para quem acha que ajuda apenas porque troca fralda, cuida durante a noite se está doente, leva ao médico, dá banho, só tenho a dizer que lamento muito sua visão rasa da paternidade. Ou melhor, você não entendeu as funções e as relações de paternalidade inerentes a esse papel.
Isso não é nada mais do que a simples responsabilidade, afinal de contas, sem filhos não haveriam os pais.
Um forte abraço aos pais de verdade.
Roges




terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Questões sobre a Paternalidade


Olá pessoal!
Estou ensaiando esse e os textos que estão por vir há pelo menos 01 ano. Para falar a verdade faz mais de ano que esse blog não se movimenta e não foram poucos os motivos para essa parada: estávamos morando em outra cidade vivendo uma vida de malucos, eu acabei tendo alguns problemas de saúde, nos mudamos, corri como um doido para defender minha tese de doutorado, as crianças trocaram de escola e por aí vai...
Nas postagens antigas eu falava muito da nossa rotina com duas crianças, das dificuldades, das alegrias e dos momentos ímpares que só quem tem filhos sabe. No entanto, acredito que ficar contando o que nossos filhos fazem não traduz o que gostaria de transmitir. Como pai de um menino de 6 anos e uma menina de quase 4 anos, acredito que trocar experiências com outros pais e mães é valioso e vai muito além.
Nesse sentido, o direcionamento das publicações vai mudar um pouco. Saem os detalhes das nossas rotinas, entram as preocupações cotidianas com a criançada, afinal de contas eles estão crescendo e junto com isso todo o contexto infantil muda também. Importante ressaltar que é a minha visão como pai, e acima de tudo, como um pai que está se moldando diante das demandas que educar - não apernas criar - filhos exige.
A retomada das publicações parte de 03 linhas temáticas ligadas à paternalidade: 1) como um homem se torna pai; 2) o que um pai necessita saber para educar um filho; e 3) o que devemos nos preocupar com o crescimento dos nossos filhotes. Percebam que uso propositalmente o termo “paternalidade” e não “paternidade”.
Paternalidade remete a uma qualidade ou virtude paternal. Tem uma conotação ligada à afetuosidade, ao vínculo e à afeição com nossos filhos. É um termo empregado amplamente por pais que buscam atuar de modo igualitário junto com suas companheiras na educação dos seus filhos, tornando-se protagonistas dessa maravilhosa responsabilidade. Acredito não ser necessário dizer que a grande carga de trabalho no âmbito da educação dos filhos cabe às nossas esposas e companheiras e é exatamente esse o propósito da utilização do termo: uma mudança de paradigmas onde nós, como pais, não deveremos simplesmente “ajudar” na educação dos filhos e sim “dividir” as responsabilidades na educação deles. Para mim, esse é um ponto crucial!
Para começar essa abordagem é interessante trazer à tona algumas constatações que, embora antigas, ainda são tidas como verdadeiras e por que não dizer, seguidas por muitos pais jovens. Yuval Harari em seu livro Homo Deus relata que não muito tempo atrás, os psicólogos duvidavam da importância da ligação emocional entre pais e filhos até mesmo no caso de humanos. Na primeira metade do século XX, apesar das teorias freudianas, a escola behaviorista alegava que as relações entre pais e filhos eram moldadas por uma retroalimentação de cunho material, ou seja, os filhos necessitavam apenas de alimentos, proteção e cuidados médicos e sua ligação com os pais se dava apenas porque estes lhes satisfaziam tais necessidades materiais. Crianças que demandavam abraços, carinhos e beijos eram tidas como mimadas e acreditava-se que estas crianças se tornariam adultos egoístas, carentes e inseguros.
John Watson advertia aos pais que: “Nunca abracem e beijem seus filhos, nunca deixem que sentem em seu colo. Se for realmente necessário, beijem-nos uma vez na testa ao lhes dar boa-noite. Cumprimentem-nos com um aperto de mão pela manhã”. Embora acredite que crianças sejam uma invenção recente (as mais antigas eram miniadultos), sou obrigado a confessar que nunca soube de uma criança que tenha se tornado um adulto egoísta por ter ganhado afeto quando pequeno.
Um artigo de 1929 de uma importante revista popular estadunidense da época (Infant Care) explicava que o segredo para criar filhos era manter uma rígida disciplina que suprisse suas necessidades materiais. O artigo orientava aos pais cuja criança chorasse por comida antes da hora de sua refeição para que não a segurassem no colo e não a embalassem para que parasse de chorar, pois chorar não prejudicaria o bebê, por menor que fosse.
Ok, todas essas informações fazem parte de um contexto em que os filhos não demandavam necessidade de educação, mas sim de criação. Precisavam ser criados para auxiliarem nas tarefas da família e nem de longe se cogitava que tivessem sentimentos. Foi apenas nas décadas de 1950 e 1960 que tais teorias behavioristas foram abandonadas e reconheceu-se a importância central das necessidades emocionais das crianças.
Pensando na ligação que podemos e devemos desenvolver com nossos filhos, a qualidade do vínculo dependerá da forma como conduzirmos, orientarmos e disciplinarmos nossas crianças. Se tais ligações forem construídas apoiadas na empatia, o acolhimento, a não violência e a disciplina positiva, o vínculo se estabelecerá baseado no respeito, na segurança e será mais duradouro e saudável.
Partindo desse pressuposto, é de extrema importância pensarmos em que tipo de vínculo estamos fortalecendo com nossos filhos. Também é preciso questionar a ideia de que estar vinculado (seja do filho com o pai ou vice-versa) seja algo totalmente benéfico, ou seja, essa ligação pode ocorrer de diversas formas. Existem pais que estabelecem vínculo de cuidado e proteção, mas que não respeitam a individualidade do filho; não respeitam suas necessidades, seus anseios, seus conflitos internos. Outros estabelecem vínculos de dependência com as crianças e acabam não conseguindo agir de maneira madura que se esperaria de um cuidador. Existem também aqueles que estabelecem vínculos de culpa e acabam sendo muito permissivos, aceitando facilmente a barganha dos filhos, apenas para não se sentirem ainda piores. E existem também os que estabelecem vínculo com o propósito de agredir outra pessoa por intermédio de seus filhos, o que é conhecido como Alienação Parental. Sobre isso falaremos mais adiante.
É importante mencionar que a qualidade do vínculo existente entre pais e filhos pode ser influenciada por questões simples. Métodos que envolvem educação não violenta e são fundamentadas no diálogo e respeito à individualidade dos nossos filhos facilitam o estabelecimento de uma ligação saudável e segura conosco.
Bom pessoal, se o texto agradou deixem seus comentários logo abaixo.
Em breve, trarei mais informações sobre essa complexa e necessária mudança de paradigmas que é a participação dos pais na educação da criançada.
Aproveitem e sigam o perfil @roges.ghidini no Instagram
Um abraço!
Roges

Referências:
Harari, Yuval Noah. Homo Deus: uma breve história do amanhã. Cia das Letras, 2016.
Sena, Lígia Moreira; Mortensen, Andréia C. K. Educar sem Violência: criando filhos sem palmadas. Ed. Papirus 7 Mares, 2014.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

sexta-feira, 27 de abril de 2018

A percepção das crianças

Ainda hoje - por incrível que pareça - há quem diga que as crianças não tem muita noção do que se passa ao seu redor.
Eu tive um professor na faculdade, e olha que lá se vão quase 20 anos, que dizia pra gente em aula que as crianças eram o termômetro de um ambiente. pelo fato de que elas não conseguem disfarçar suas reações.
Pois bem, aqui em casa tenho me surpreendido consideravelmente com o modo que as crianças percebem ou até mesmo, reagem a certas situações.
A Helena, franca e direta como sempre, assim que enxerga algo que não lhe satisfaz larga o seu famoso "Não gostei!"
Ela é bem cara de pau e diz na frente das pessoas que não gosta delas. "Não goto dele!"
Simples.
Direto.
Constrangedor.
Esses dias fomos dar uma volta na UCS e em um determinado momento ela quis brincar com uma menininha que estava lá pelo parquinho. A menina, talvez por não conhecer a Helena, não se mostrou muito afeita a compartilhar aquele momento com a Leleca e simplesmente virou a cara. A Helena, não satisfeita em ter tomado um "carão", foi na frente da mãe da menina e disparou:
"Não goto dela. Tem que binca comigo. Que feio!"
Pausa para o momento avestruz (aquela hora que a gente quer enfiar a cabeça num buraco).
Sinceramente não me recordo de ter passado alguma situação como essa com o Vicente.
Ao contrário, ele é muito sociável e sensível.
Uma manhã dessas estávamos os três (Vicente, Helena e eu) saindo de casa em direção à escola em um dos dias que eles vão cedo pra aula. A Helena, como de costume fez seu show matinal e acordou metade do condomínio porque não queria colocar uma camiseta. Ela queria a da Minie! O Vicente, de boa, só ria.
Eis que chegando no carro, a Helena novamente fez um escândalo porque não queria entrar no carro (sabia que estávamos indo pra escola) e o Vicentão largou aquela que seria a frase mais impactante de todas:
"Ter duas crianças não é fácil né papai!"
Nesse momento, larguei a Helena na cadeirinha e comecei a procurar meus butiás que haviam caído do bolso.
Aquela frase foi uma voadora! Fiquei pensando de onde ele tinha tirado aquela conclusão e a primeira coisa que me veio à cabeça foi: "Estamos tocando demais nessa tecla."
Tentei remendar mas não foi fácil.
"Não meu filho, às vezes é assim como você está vendo mas na maior parte do tempo ter crianças é só alegria."
Sem deixar quicar ele arrematou: "Mas ter duas crianças é mais difícil que ter só uma!"
De fato, ter duas crianças dá bem mais trabalho do que ter uma só mas o principal benefício de ter duas crianças em casa é a companhia de um irmão, de uma pessoa que vai poder te acompanhar no decorrer da tua vida e que em grande parte das vezes, vai te conhecer melhor que você próprio.
Eu até tentei, pela segunda vez, arrumar a conversa dizendo que o bom de ter dois filhos é a alegria de ver os irmãos juntos e tal, mas aí veio o tiro de misericórdia.
"Tem adultos que não tem crianças né papai. Deve ser triste os adultos que não tem filhos, porque criança enche uma casa de alegria!"
Me digam agora, o que é que se diz numa hora dessas? Nada né! Ouve e absorve.
A sensibilidade do Vicente é surpreendente mesmo. Até pouco tempo atrás ele chorava com alguns desenhos na TV em que algum personagem acabava sendo vítima de alguma injustiça.
Hoje pela manhã estávamos saindo para a escola - bem mais calmos dessa vez - e ao entrarmos no elevador nos deparamos com um morador do prédio que estava de saída, assim como nós. Trocamos o bom dia tradicional e na hora de desembarcar do elevador o vizinho acabou saindo antes e nos deu outro bom dia e também, um bom trabalho.
Eis que o Vicente respondeu para ele e depois, me olhando nos olhos, falou: "Esse titio foi gentil com a gente!"
As crianças percebem tudo ao seu redor e só não se expressam mais para nos poupar.
Só pra contextualizar isso que eu estou dizendo, tem um perfil no instagram bem legal. O @acasadaarvore8 é um perfil gerenciado por uma mãe que imprime em suas postagens um pouco do sentimento e das impressões da sua filha frente à realidade chata dos adultos. Em textos curtos ela se manifesta como se fosse a filha escrevendo sobre determinados assuntos, como os dias que está doentinha (que para os adultos, muitas vezes a criança está "chatinha"), o dia da vacina, as brigas entre o pai e a mãe, etc...Vale a pena conferir e seguir.
Um abraço a todos!
Roges

quinta-feira, 29 de março de 2018

A mudança...

Olá pessoal!

Depois de um longo hiato, torno a escrever por aqui.
O que aconteceu nesse meio tempo  foi uma mudança. Como alguns devem saber, mudamos de casa...e de cidade!
Tenho observado o comportamento das crianças com essa mudança de ares e sou obrigado a confessar que muito me preocupou o fato de elas romperem laços afetivos e simbólicos.
O que eu quero dizer com isso? Que a cidade, a vizinhança, a babá e a escola eram os motivos de preocupação que eu e a Mara considerávamos mais fortes.
Normalmente, mudar não é uma tarefa fácil. Com a ida para Caxias do Sul, tivemos que nos organizar para levar e trazer a criançada da escola, assim como todos os afazeres domésticos.
O lado bom é que eles estão - ainda - em processo de assimilação da nova rotina e das novas pessoas em suas vidas.
Semana retrasada Vicente teve uma virose e foi obrigado a ficar em casa por um dia. Na volta para a escola os colegas correram para abraçá-lo. Um deles, Marco Antônio se agarrou nas pernas do Vicente e disse: "Que bom que tu voltou Vicente!"
Nesse momento entrou um cisco no olho. Como é bom saber e ver que nossos filhos são queridos e lembrados por alguém que também goste deles. Começo a perceber que as crianças estão fazendo amizades, tanto na escola quanto no condomínio e isso é muito importante.
Com a Helena a coisa é séria...quem conhece a baixinha sabe que ela não é de se abrir logo de início. Foi assim durante um momento de adaptação na nova escola e hoje ela se sente bastante a vontade. Encontrou um bebê, que curiosamente tem o mesmo nome do mano, e desde então ela se auto-nomeou como "tutora" do bebê. Uma fofa!
O problema é acordar esse povo cedo!
Só para deixar claro aos vizinhos que não é necessário chamar o conselho tutelar...é apenas a Helena que não quer escovar os dentes!



segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

A Helena...

Hoje é dia 08/01 e com um pequeno atraso quero fazer uma homenagem para minha filha linda!
Helena fez 2 aninhos no dia 06/01 e hoje não consigo - e a Mara também não - pensar em viver sem ela. Sem aquele sorriso lindo e sapeca, sem a inteligência ímpar que ela tem, sem o gênio pra lá de difícil quando o sono bate...
A verdade é que a Mara e eu não planejávamos ter mais filhos. O Vicente estava crescendo e as coisas voltando para a rotina e quem é pai de primeira viagem há de concordar com o que estou falando.

Eis que uma bela manhã ensolarada, estava indo a Caxias do Sul e a Mara me liga:
- Onde tu tá?
- Tô indo a Caxias!
- Encosta então...
- Que que eu esqueci? Já sei...minha carteira! Sabia que tinha esquecido alguma coisa!
- Não, não foi tua carteira que você esqueceu.
- Ué, que foi então?
- Você esqueceu uma coisa, mas não foi tua carteira. Você esqueceu um pedacinho teu dentro de mim!

Resumidamente, assim inicia a história da Helena nas nossa vidas.
Se eu disser que não entrei em choque, estarei mentindo. Com a Mara foi a mesma coisa!
Um certo temor de "como será que vai ser daqui pra diante" tomou conta da gente e, naturalmente com calma, a pitoca foi tomando conta das nossas vidas e também da vida do mano Vicente.

Tivemos uma gravidez tranquila, embora com algumas surpresas, como o dia que a Mara tinha "certeza absoluta" que teríamos outro menino e a médica disse:
- Antônio??? Só se for Antônia mãe, porque é uma meninona!

Ou quando larguei meus alunos sem explicação no meio de uma aula em corri de Bento para Garibaldi, ultrapassando os carros pelo acostamento porque a Mara apresentou um pequeno sangramento e estávamos com medo de perder a pequena.

Enfim, hoje ela está aí...acordando brava e ranzinza porque precisa ir para a escola cedo, mas acima de tudo, está aí para alegrar nossas vidas de uma maneira nunca antes imaginada.
A ti, minha filha, toda felicidade do mundo. Que o grande Pai Oxalá ilumine seu caminho.
Um beijo grande e emocionado desse teu pai babão, da tua mãe que te carregou feliz da vida e do teu mano que te protege, mesmo que você bata nele!


quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Meninos X Meninas

Olá pessoal!
Espero que todos tenham tido ótimas festas e uma bela virada de ano.
Estamos iniciando os trabalhos de 2018 com plena força e vigor.
Hoje farei um comparativo simples, o qual até pouco tempo atrás eu refutava veementemente. É o tipo de matéria que as revistas especializadas adoram. Por "revistas especializadas" entende-se, aquelas publicações especialistas em fazer com que os pais se sintam as piores criaturas do mundo, pois nossos filhos nunca são bem educados o suficiente.
O fato de escrever sobre isso é que me senti obrigado em rever alguns posicionamentos sobre o assunto em questão, uma vez que vivencio, in loco, essas diferenças!
Bom, sem mais delongas, vamos ao que interessa:

Diferenças entre educar meninos e meninas

Brincadeiras

Meninos - às vezes rolam umas lutinhas com os pais;
Meninas - quando rola uma lutinha, elas "descem a mão" nos pais;

Cabelos

Meninos - despenteado ou batido com gel; no máximo um topete;
Meninas - saco de rabicós no carro, na mochila, no bolso para fazer um rabo de cavalo, mas os preferidos são as chucas no coco da cabeça ou duas nas laterais;

Brinquedos

Meninos - brincam de carrinho com os pais, jogam bola e montam umas pistinhas de hot weels;
Meninas - brincam de bonecas...mas tem que dar de comer, colocar para dormir de ladinho e com cobertinhas;

Comportamento

Meninos - em função da similaridade cromossômica (XY), companheirismo desde o berço;
Meninas - mandar e desmandar no meu pai até ele fingir que vai pegar água na cozinha;

Viagens

Meninos - levam 1 carrinho e 1 boneco do Max Steel...máximo 2 de cada!
Meninas - 7 bonecas + fraldinhas das bonecas + carrinho das bonecas + roupinhas das bonecas + mamadeiras das bonecas. Se a polícia rodoviária parar, aplica multa em função de tanta gente sem cinto de segurança na viagem!

Então...não fiz bem em rever meus conceitos sobre educar meninos e meninas?

Que 2018 seja proveitoso a todos nós.

Seguimos juntos!

Um forte abraço.

Roges e família
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terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Mudando de opinião

Os filhos fazem a gente mudar de ideia e às vezes de ideais!
Falo isso com muita convicção, pois não foram poucas as vezes que o Vicente, sem querer ou planejar, me fez mudar o modo de ver as coisas e agir diferente.
Para vocês entenderem isso, relatarei o fato que ocorreu na casa de "um amigo" em 2 cenas.


Cena 1 - Sala de casa


Sábado, dia do jogo do Grêmio contra o Real Madrid!
Assistindo tv e brincando um pouco quando o melhor momento do jogo aconteceu...o gol!
Como colorado que é, o protagonista da história vibra. E nessa hora, eis que o filho lhe pergunta:
- O Grêmio fez gol papai?
- Não filho.
- Então o Grêmio vai perder?
- Pelo jeito sim, filho - respondeu sem conseguir disfarçar sua mesquinha felicidade (e inveja)!
- Ai papai, que triste!!!
Nesse momento, pleno de emoção de seu pequeno, que ainda nem sabe diferenciar direito essas coisas mundanas da rivalidade e dores de cotovelo esportivas, o pai leva um belo tapa (de luvas) na cara. Um tapa de alguém que não se cansa de me ensinar que as coisas belas não são àquelas movidas pelo fanatismo nem pelo ego.
De que adiantava torcer para o Real Madrid ganhar e dar uma lição ao coirmão, se isso afetaria a felicidade (momentânea) do filhote?
Nesse momento inicia a cena 2.

Cena 2 - Sala de casa

Cheio de vergonha, devido a sua atitude mesquinha, o pai começa então a torcer pelo coirmão!
Cada bola que o Real toma no meio de campo (e foram muitas, meu Deus como é ruim esse time tricolor!) o pai sofre calado...embora no fundo, ainda deseja que um segundo gol tome forma e venha coroar a vitória do time espanhol.
Aos poucos vai percebendo que a brincadeira tem mais importância que o futebol e se alivia. Se alivia por que vê que o filho dá mais importância àquilo que realmente é importante para si.
E mais aliviado fica em saber que vai poder continuar torcendo para seu time, sem se preocupar em virar a casaca...pelo menos por enquanto!

Desejamos a todos ótimas festas e um venturoso 2018.
Agradecendo os acessos ao blog e o tempo dedicado às leituras das nossas histórias.
Até o ano que vem pessoal!
Roges, Mara, Vicente e Helena

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Educação em tempos modernos

Que educação você quer oferecer para o seu filho?
Eu costumo fazer essa pergunta para muita gente, inclusive para meus alunos na faculdade.
Sabe por quê?
Simples!
O que você acredita que seja essencial para seu filho aprender?
Ao meu ver essa pergunta é a chave para a realização dos nossos filhos.
Tempos atrás fomos a Porto Alegre e quando passávamos em frente a UFCSPA disse ao Vicente:

- Filho, é aqui que o papai estuda!

- Nossa, que grande né papai.
- Sim.
- E vocês tem hora do conto?
- Não.
- Que triste!

Pra falar a verdade, não lembro de ter tido hora do conto quando era criança, embora isso não tenha me afastado da literatura. Entretanto, o tempo passa e as coisas mudam (graças a Deus!).

Vivemos em um tempo de inúmeras mudanças que ocorrem do dia pra noite. Sou um cara da geração X e meus filhos fazem parte de uma geração que, provavelmente, estará mais apta a lidar com conhecimentos diferentes daqueles que foram ensinados a mim e meus contemporâneos.
Assim como nós temos mais facilidade em alguns assuntos que nossos pais e avós, a gurizada da idade do Vicente e da Helena, provavelmente terá muito mais aptidão a lidar com conhecimentos mais dinâmicos do que eu e a Mara.
O interessante de tudo isso é que em pleno século 21 é possível notar uma certa nostalgia daquele "tempo em que a educação funcionava". 
Seja no formato de apostilas pré-formatadas com todo o conhecimento "necessário" para as crianças em um ano letivo, (e há pais que reclamam quando as aulas não seguem o cronograma proposto) ou no formato de salas de aula com classes e cadeiras colocadas em fileiras, o modelo de educação formal segue sua saga, incólume.
Uma das razões para isso é que muitos dos profissionais de educação que estão na ativa não tem aptidão para mudar seu estilo de trabalho. Somos professores formados por professores que foram formados nos anos 60, 70. O modelo era baseado em um formato de educação hierárquico em que os professores decidiam o que as crianças "deveriam aprender", enfatizando as aptidões de raciocínio lógico, científico e linguagem. E quando penso nisso, a primeira coisa que vem à minha cabeça é a tal fórmula de Bhaskara. Quem, além do pessoal das exatas, usa Bhaskara?
Nesse ponto, Ken Robinson (sensacional, como sempre!) aborda em seus livros e palestras a existência de uma hierarquia do conhecimento em função de um modelo que agrega status às profissões consideradas formais. Áreas do conhecimento como artes, natureza e relações inter-pessoais são subvalorizadas em detrimento de outras áreas, consideradas mais cartesianas. E assim, as escolas prestam um desserviço à educação pois acabam coibindo a expressão da criatividade das crianças (assista aqui). Keith Sawyer, em uma de suas obras ensina de modo prático como explorar a criatividade, que já nasce conosco e perdemos com o passar dos anos. Mas isso é assunto para outra postagem.





Esse semestre tenho uma turma de estágio de educação física nos anos iniciais do ensino fundamental e uma coisa muito interessante é ouvir os acadêmicos reclamarem que as crianças não ficam paradas enquanto eles explicam as atividades. Ora, isso não existe mais!

As crianças ficam a semana toda, várias horas por dia, sentadas em classes dentro de uma sala de aula ouvindo um professor falar sobre coisas que muitas vezes não faz o menor sentido para elas. Não conseguem associar aquele conhecimento com algo prático, do seu cotidiano.
De modo sucinto, poderíamos dizer que nosso modelo de educação formal tem prazo de validade. Em relação a essa afirmação gostaria de pontuar, a seguir, dois fenômenos: o primeiro, oriundo de pais que questionam a capacidade de nossas escolas de educar crianças e jovens e outro, de instituições que optaram em mudar sua forma de abordar a educação das crianças.

A Desescolarização (Unschooling)


Desescolarização é um conceito sugerido pela primeira vez na década de 1970. Um dos principais proponentes é o filósofo e pedagogo austríaco Ivan Illitch (não o Ivan Illitch, personagem do Tolstói) que escreveu um livro chamado "Sociedade Sem Escola", em 1971. John Holt, outro autor considerado o pai da desescolarização,  é crítico do modelo engessado das escolas. "Nós destruímos o amor por aprender das crianças, de forma tão forte, quando eles são pequenos, encorajando e impondo a eles o trabalhar por recompensas mesquinhas e desprezíveis, estrelinhas douradas, papeis marcados com 100 e pendurados na parede, ou A em cartões. Tudo isso para estimular a satisfação ou o sentimento de que eles são melhores que alguém", afirmou Holt certa vez.

A desescolarização parte da premissa de que crianças são aprendizes naturais e que a curiosidade deve ser incentivada no lugar de uma educação moldada para ser igual a todos. 
Desescolarização é diferente de educação em casa. Na segunda, há um currículo de disciplinas a ser estudado e existe um horário para aprender e brincar. No unschooling não há momento específico de estudo. 
Uma das precursoras do fenômeno do unschooling no Brasil é Ana Thomaz. Educadora, começou a desescolarização com Gutto, seu filho. Aos 12 anos, ele pediu para sair do colégio. "Fiquei com muita dúvida e receio. Achei que estivesse ficando louca mas algo me dizia que aquilo fazia sentido". Aos 14, ela concordou em tirá-lo da escola e relata que, embora tenha sido bastante difícil, pois exige dos pais grande quantidade de tempo livre e disponível para as ações educativas com seus filhos, não se arrepende. 
Contudo, é importante lembrar que, segundo a legislação educacional brasileira (Lei nº 9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases - LDB) ainda não há respaldo legal para esse fenômeno, o que de certa forma, coloca os pais que optam por essa estratégia educacional, à margem da lei . Para quem quer saber mais sobre o movimento de desescolarização no Brasil, pode tirar algumas dúvidas aquiaqui e aqui
Outra alternativa, considerada por muitos especialistas em educação como um caminho sem volta, é a modernização dos espaços educacionais. Para muitos pais e confesso que me coloco nesse grupo, a ideia de educar os filhos para as demandas da vida tem se sobreposto à necessidade de educar os filhos frente às demandas de trabalho da sociedade moderna. Desse modo, algumas instituições educacionais mundo afora têm literalmente copiado e até mesmo desenvolvido modelos inovadores de educação baseados no sucesso das escolas finlandesas, as quais prezam pela autonomia e independência dos alunos frente a problemas do cotidiano. Tudo isso sem deixar de lado aspectos fundamentais de matérias consideradas importantes para a formação pessoal das crianças e adolescentes. 
Vocês terão uma ideia do que estou falando clicando aqui e aqui. Além de uma lista das 5 escolas consideradas mais inovadoras do Brasil, poderão identificar se esse tipo de mudança no paradigma educacional faz a sua cabeça...e do seu filho!
Afinal de contas, educar um filho não é moldá-lo na nossa forma!
Abaixo umas imagens de salas de aula e escolas com uma cara nova (na Finlândia, claro!), atraente e motivadora...nada daquela coisa de classes e carteiras enfileiradas. 
Um forte abraço e até breve!
Boa leitura!
Roges




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segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Recontando a história num dia especial

Essa história já foi contada antes, mas nesse dia pra lá de especial, vale a pena reviver tudo isso!
Hoje é aniversário da Mara e desde 2009 tenho o prazer de conviver essa passagem de ciclo com ela.
Feliz ano novo Mara!
Que possamos, você, Vicente, Helena e eu, viver muitos e muitos dias 30 de outubro juntos, sorrindo e rindo demais!
Te amamos ao infinito e além!
Vicente, Helena e eu.

COMO CHEGAMOS ATÉ AQUI
            Essa é a história da Chapeuzinho Vermelho e o Lobo. Não aquela Chapeuzinho que a gente já conhece e nem aquele Lobo tão falado por nossos pais nos contos de fadas, que de mau, na verdade, não tem nada. É a história do verdadeiro encontro de Chapeuzinho com o Lobo, o seu Lobo.
            A Chapeuzinho era uma menina muito bonita. Cresceu em uma família com muitos irmãos em uma propriedade do interior, quando ainda criança veio para a cidade. O Lobo em questão nunca morou no interior, sempre na cidade. Crianças comuns como a maioria das crianças de sua época, Chapeuzinho e Lobo se conheciam desde pequenos, embora pouquíssimas vezes tivessem conversado. Foram colegas na mesma escola, faziam praticamente as mesmas atividades, inclusive os esportes, que tanto chamavam a atenção do Lobo e nem tanto assim da Chapeuzinho.
            O tempo, que não falha jamais, coube a ele aproximar e também distanciar nossos personagens deste conto de fadas nada convencional. A adolescência chegou, o Lobo, motivado pelo trabalho interno de seus hormônios, iniciou suas lides de aproximação com às da sua espécie. Chapeuzinho, por sua vez, era muito bem vigiada por seus irmãos, os quais não se descuidavam da jóia preciosa que nascera entre eles. Nas idas e vindas dessa época tão conturbada para ambos – para ele pela necessidade de provação e aprovação entre seus semelhantes, para ela o contrário, a discrição era praticamente uma necessidade – o Lobo, audaz e metido, resolve firmar compromisso com uma semelhante de Chapeuzinho. Até aí nada de mais, pois a própria Chapeuzinho nesta época da vida também encontrava-se na mesma situação.
          Foram raras, porém não pouco satisfatórias para o Lobo, as vezes que se encontraram, que conversaram, que praticaram seus esportes conjuntamente e até viajaram com esse objetivo. Tomado de admiração pela beleza inebriante da Chapeuzinho, o Lobo, coitado, nunca se atreveu a apresentar-se para ela com aquelas intenções tão bem conhecidas que garantem o futuro de nossas espécie.
            Veio a idade adulta. Tanto Chapeuzinho quanto o Lobo foram em busca de seus objetivos de vida. Estudaram, amadureceram, quase casaram e um dia, um dia para jamais esquecer, se reencontraram. A Chapeuzinho tinha terminado seu relacionamento há pouco tempo – nem tão pouco quanto o Lobo - e de volta ao seu cotidiano de mulher bonita, encantadora, inteligente e especialmente solteira, um dia foi convidada para um programa entre amigos numa noite de sábado. Nosso herói, por sua vez, que nem morava mais naquela freguesia, resolvera fazer dos estudos seu meio de vida e na maior das coincidências - se é que podemos falar em coincidências nessa altura da vida - resolveu fazer uma visita à sua mãe e também aos seus poucos e bons amigos, obviamente da mesma espécie que ele.
            Naquela noite, o Lobo chegou para a tal reunião entre amigos e parecia um simples poodle perdido, nem parecia o Lobo que sempre foi e que cresceu no meio das pessoas mais estranhas possíveis de serem encontradas na face dessa terra. Ia de um lado a outro, sem saber o que fazer, com quem se enturmar, até que de longe observou que a Chapeuzinho estava por lá. Tanto tempo, tantos anos e por mais incrível que parecesse, ela era exatamente a mesma. Como iria falar com ela? Como se aproximar? Afinal de contas, apesar de serem de espécies diferentes, o Lobo sempre olhou para elas com outros olhos...olhos de Lobo Mau! Ela por sua vez, mestre na arte da discrição, pouco fez da presença do Lobo...ou pelo menos pareceu assim!
            Ao meio da reunião, veio enfim, o jantar quando o Lobo respondeu que não comia carne. Todos ao redor, olharam para ele como que perguntassem desde quando lobo não come carne, quando sem pestanejar a Chapeuzinho naturalmente respondeu:
            - Eu como!!!
            O jantar terminou. As pessoas começaram a se reunir em pequenos grupos para continuar seus assuntos interrompidos pela chegada da comida à mesa, outras preferiram ouvir música. Quando tudo levava a crer que mais uma vez o Lobo e Chapeuzinho apenas se encontrariam casualmente em uma conversa paralela ele menciona que Che Guevara, o mártir da Revolução Cubana e inspiração para milhões de jovens no mundo inteiro, era também uma pessoa a quem ele próprio admirava. Ouvindo de canto e observando o discurso do Lobo, Chapeuzinho não perde tempo em afirmar que também admira aquela famosa figura de cabelos despenteados imortalizada na imagem clássica da boina com a estrela comunista. Estava enganado...enfim alguém que tenha uma cabeça boa e um papo interessante nesse jantar! Se não houvesse possibilidade de um encontro mais apimentado com a Chapeuzinho, pelo menos tinha a certeza de que a conversa enfim iria melhorar.
            A noite, como se diz, é uma criança e assim foi que nossos personagens seguiram para uma festa. Cheio de pretensões, o Lobo, fazendo jus ao uma de suas maiores qualidades, o faro, discretamente deu uma cheirada na Chapeuzinho ao entrar no carro dela. Foi para saber se o cheiro o atiçava tanto quanto sua presença, confessou ele certa vez. Mais tarde ficou sabendo que sua tentativa de sentir o aroma de chapeuzinho nem fora tão discreta como até então imaginara. Estava perdendo o jeito!
            Na festa, Chapeuzinho se esquivava, enquanto o Lobo pensava em armar sua tocaia. Acabaram voltando juntos para casa – ela ofereceu carona e ele, que de bobo não tem nada, aceitou – quando enfim puderam conversar sobre as diferenças entre suas espécies e mais ainda sobre a semelhanças que nem imaginavam ter.
            Pouco tempo demorou para saber que seriam apenas um no futuro. O Lobo voltou para a cidade onde vivia e terminar seu trabalho que estava pendente. E assim foi durante sete meses. Nesse período, o Lobo frequentemente enfrentava horas a fio de estrada para encontrar sua Chapeuzinho, que também não ficava para trás no sofrimento, na ausência e na vontade de estar sempre junto. No embalo da paixão avassaladora, não tardou a decidir que ficar sem sua Chapeuzinho era algo impensável, impossível e por isso voltaria ao lugar onde nasceram e enfim se encontraram, para planejar suas vidas dali para frente.
            Sabe aquelas histórias ao estilo Eduardo e Mônica? Aquelas pessoas que nem no mais fértil imaginário ficariam juntos? Pois é, essa é a história do Lobo e da Chapeuzinho, que desde pequenos se conheceram, conviveram e se encontraram muitos anos depois. O primeiro resultado desse encontro nasceu dia 12 de julho de 2013 às 11:47hs de uma manhã ensolarada e atende pelo nome de Vicente. Recentemente chegou mais um dos feitos da Chapeuzinho e do Lobo. Se chama Helena e veio ao mundo em uma quarta feira de sol e calor (06 de janeiro) de 2016.

           O sol nasce e se põe a cada dia e quando menos esperamos, eis que surge na nossa frente aquele alguém que nos conduzirá rumo à felicidade e a realização. Essa é a história de um Lobo solitário e uma Chapeuzinho cheia de atitudes e ao contrário do que ouvimos dos contadores de histórias, "Pirlim pim pim, essa história não chegou ao fim".