terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Questões sobre a Paternalidade


Olá pessoal!
Estou ensaiando esse e os textos que estão por vir há pelo menos 01 ano. Para falar a verdade faz mais de ano que esse blog não se movimenta e não foram poucos os motivos para essa parada: estávamos morando em outra cidade vivendo uma vida de malucos, eu acabei tendo alguns problemas de saúde, nos mudamos, corri como um doido para defender minha tese de doutorado, as crianças trocaram de escola e por aí vai...
Nas postagens antigas eu falava muito da nossa rotina com duas crianças, das dificuldades, das alegrias e dos momentos ímpares que só quem tem filhos sabe. No entanto, acredito que ficar contando o que nossos filhos fazem não traduz o que gostaria de transmitir. Como pai de um menino de 6 anos e uma menina de quase 4 anos, acredito que trocar experiências com outros pais e mães é valioso e vai muito além.
Nesse sentido, o direcionamento das publicações vai mudar um pouco. Saem os detalhes das nossas rotinas, entram as preocupações cotidianas com a criançada, afinal de contas eles estão crescendo e junto com isso todo o contexto infantil muda também. Importante ressaltar que é a minha visão como pai, e acima de tudo, como um pai que está se moldando diante das demandas que educar - não apernas criar - filhos exige.
A retomada das publicações parte de 03 linhas temáticas ligadas à paternalidade: 1) como um homem se torna pai; 2) o que um pai necessita saber para educar um filho; e 3) o que devemos nos preocupar com o crescimento dos nossos filhotes. Percebam que uso propositalmente o termo “paternalidade” e não “paternidade”.
Paternalidade remete a uma qualidade ou virtude paternal. Tem uma conotação ligada à afetuosidade, ao vínculo e à afeição com nossos filhos. É um termo empregado amplamente por pais que buscam atuar de modo igualitário junto com suas companheiras na educação dos seus filhos, tornando-se protagonistas dessa maravilhosa responsabilidade. Acredito não ser necessário dizer que a grande carga de trabalho no âmbito da educação dos filhos cabe às nossas esposas e companheiras e é exatamente esse o propósito da utilização do termo: uma mudança de paradigmas onde nós, como pais, não deveremos simplesmente “ajudar” na educação dos filhos e sim “dividir” as responsabilidades na educação deles. Para mim, esse é um ponto crucial!
Para começar essa abordagem é interessante trazer à tona algumas constatações que, embora antigas, ainda são tidas como verdadeiras e por que não dizer, seguidas por muitos pais jovens. Yuval Harari em seu livro Homo Deus relata que não muito tempo atrás, os psicólogos duvidavam da importância da ligação emocional entre pais e filhos até mesmo no caso de humanos. Na primeira metade do século XX, apesar das teorias freudianas, a escola behaviorista alegava que as relações entre pais e filhos eram moldadas por uma retroalimentação de cunho material, ou seja, os filhos necessitavam apenas de alimentos, proteção e cuidados médicos e sua ligação com os pais se dava apenas porque estes lhes satisfaziam tais necessidades materiais. Crianças que demandavam abraços, carinhos e beijos eram tidas como mimadas e acreditava-se que estas crianças se tornariam adultos egoístas, carentes e inseguros.
John Watson advertia aos pais que: “Nunca abracem e beijem seus filhos, nunca deixem que sentem em seu colo. Se for realmente necessário, beijem-nos uma vez na testa ao lhes dar boa-noite. Cumprimentem-nos com um aperto de mão pela manhã”. Embora acredite que crianças sejam uma invenção recente (as mais antigas eram miniadultos), sou obrigado a confessar que nunca soube de uma criança que tenha se tornado um adulto egoísta por ter ganhado afeto quando pequeno.
Um artigo de 1929 de uma importante revista popular estadunidense da época (Infant Care) explicava que o segredo para criar filhos era manter uma rígida disciplina que suprisse suas necessidades materiais. O artigo orientava aos pais cuja criança chorasse por comida antes da hora de sua refeição para que não a segurassem no colo e não a embalassem para que parasse de chorar, pois chorar não prejudicaria o bebê, por menor que fosse.
Ok, todas essas informações fazem parte de um contexto em que os filhos não demandavam necessidade de educação, mas sim de criação. Precisavam ser criados para auxiliarem nas tarefas da família e nem de longe se cogitava que tivessem sentimentos. Foi apenas nas décadas de 1950 e 1960 que tais teorias behavioristas foram abandonadas e reconheceu-se a importância central das necessidades emocionais das crianças.
Pensando na ligação que podemos e devemos desenvolver com nossos filhos, a qualidade do vínculo dependerá da forma como conduzirmos, orientarmos e disciplinarmos nossas crianças. Se tais ligações forem construídas apoiadas na empatia, o acolhimento, a não violência e a disciplina positiva, o vínculo se estabelecerá baseado no respeito, na segurança e será mais duradouro e saudável.
Partindo desse pressuposto, é de extrema importância pensarmos em que tipo de vínculo estamos fortalecendo com nossos filhos. Também é preciso questionar a ideia de que estar vinculado (seja do filho com o pai ou vice-versa) seja algo totalmente benéfico, ou seja, essa ligação pode ocorrer de diversas formas. Existem pais que estabelecem vínculo de cuidado e proteção, mas que não respeitam a individualidade do filho; não respeitam suas necessidades, seus anseios, seus conflitos internos. Outros estabelecem vínculos de dependência com as crianças e acabam não conseguindo agir de maneira madura que se esperaria de um cuidador. Existem também aqueles que estabelecem vínculos de culpa e acabam sendo muito permissivos, aceitando facilmente a barganha dos filhos, apenas para não se sentirem ainda piores. E existem também os que estabelecem vínculo com o propósito de agredir outra pessoa por intermédio de seus filhos, o que é conhecido como Alienação Parental. Sobre isso falaremos mais adiante.
É importante mencionar que a qualidade do vínculo existente entre pais e filhos pode ser influenciada por questões simples. Métodos que envolvem educação não violenta e são fundamentadas no diálogo e respeito à individualidade dos nossos filhos facilitam o estabelecimento de uma ligação saudável e segura conosco.
Bom pessoal, se o texto agradou deixem seus comentários logo abaixo.
Em breve, trarei mais informações sobre essa complexa e necessária mudança de paradigmas que é a participação dos pais na educação da criançada.
Aproveitem e sigam o perfil @roges.ghidini no Instagram
Um abraço!
Roges

Referências:
Harari, Yuval Noah. Homo Deus: uma breve história do amanhã. Cia das Letras, 2016.
Sena, Lígia Moreira; Mortensen, Andréia C. K. Educar sem Violência: criando filhos sem palmadas. Ed. Papirus 7 Mares, 2014.

Um comentário:

  1. Muito bom meu amigo!!! Estava a pensar sobre paternidade esses dias e cheio de dúvidas e teu texto veio com excelentes contribuições! Obrigado!!!

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