Os filhos fazem a gente mudar de ideia e às vezes de ideais!
Falo isso com muita convicção, pois não foram poucas as vezes que o Vicente, sem querer ou planejar, me fez mudar o modo de ver as coisas e agir diferente.
Para vocês entenderem isso, relatarei o fato que ocorreu na casa de "um amigo" em 2 cenas.
Cena 1 - Sala de casa
Sábado, dia do jogo do Grêmio contra o Real Madrid!
Assistindo tv e brincando um pouco quando o melhor momento do jogo aconteceu...o gol!
Como colorado que é, o protagonista da história vibra. E nessa hora, eis que o filho lhe pergunta:
- O Grêmio fez gol papai?
- Não filho.
- Então o Grêmio vai perder?
- Pelo jeito sim, filho - respondeu sem conseguir disfarçar sua mesquinha felicidade (e inveja)!
- Ai papai, que triste!!!
Nesse momento, pleno de emoção de seu pequeno, que ainda nem sabe diferenciar direito essas coisas mundanas da rivalidade e dores de cotovelo esportivas, o pai leva um belo tapa (de luvas) na cara. Um tapa de alguém que não se cansa de me ensinar que as coisas belas não são àquelas movidas pelo fanatismo nem pelo ego.
De que adiantava torcer para o Real Madrid ganhar e dar uma lição ao coirmão, se isso afetaria a felicidade (momentânea) do filhote?
Nesse momento inicia a cena 2.
Cena 2 - Sala de casa
Cheio de vergonha, devido a sua atitude mesquinha, o pai começa então a torcer pelo coirmão!
Cada bola que o Real toma no meio de campo (e foram muitas, meu Deus como é ruim esse time tricolor!) o pai sofre calado...embora no fundo, ainda deseja que um segundo gol tome forma e venha coroar a vitória do time espanhol.
Aos poucos vai percebendo que a brincadeira tem mais importância que o futebol e se alivia. Se alivia por que vê que o filho dá mais importância àquilo que realmente é importante para si.
E mais aliviado fica em saber que vai poder continuar torcendo para seu time, sem se preocupar em virar a casaca...pelo menos por enquanto!
Desejamos a todos ótimas festas e um venturoso 2018.
Agradecendo os acessos ao blog e o tempo dedicado às leituras das nossas histórias.
Até o ano que vem pessoal!
Roges, Mara, Vicente e Helena
Pai (em dose dupla) do Vicente e da Helena, Professor e Epidemiologista. Apaixonado Ad Infinitum pela Mara. Blog sobre Paternidade Responsável, Comunicação Não Violenta e Disciplina Positiva.
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
quinta-feira, 7 de dezembro de 2017
Educação em tempos modernos
Que educação você quer oferecer para o seu filho?
Eu costumo fazer essa pergunta para muita gente, inclusive para meus alunos na faculdade.
Sabe por quê?
Simples!
O que você acredita que seja essencial para seu filho aprender?
Ao meu ver essa pergunta é a chave para a realização dos nossos filhos.
Tempos atrás fomos a Porto Alegre e quando passávamos em frente a UFCSPA disse ao Vicente:
- Filho, é aqui que o papai estuda!
- Nossa, que grande né papai.
- Sim.
- E vocês tem hora do conto?
- Não.
- Que triste!
Pra falar a verdade, não lembro de ter tido hora do conto quando era criança, embora isso não tenha me afastado da literatura. Entretanto, o tempo passa e as coisas mudam (graças a Deus!).
Vivemos em um tempo de inúmeras mudanças que ocorrem do dia pra noite. Sou um cara da geração X e meus filhos fazem parte de uma geração que, provavelmente, estará mais apta a lidar com conhecimentos diferentes daqueles que foram ensinados a mim e meus contemporâneos.
Assim como nós temos mais facilidade em alguns assuntos que nossos pais e avós, a gurizada da idade do Vicente e da Helena, provavelmente terá muito mais aptidão a lidar com conhecimentos mais dinâmicos do que eu e a Mara.
O interessante de tudo isso é que em pleno século 21 é possível notar uma certa nostalgia daquele "tempo em que a educação funcionava".
Seja no formato de apostilas pré-formatadas com todo o conhecimento "necessário" para as crianças em um ano letivo, (e há pais que reclamam quando as aulas não seguem o cronograma proposto) ou no formato de salas de aula com classes e cadeiras colocadas em fileiras, o modelo de educação formal segue sua saga, incólume.
Uma das razões para isso é que muitos dos profissionais de educação que estão na ativa não tem aptidão para mudar seu estilo de trabalho. Somos professores formados por professores que foram formados nos anos 60, 70. O modelo era baseado em um formato de educação hierárquico em que os professores decidiam o que as crianças "deveriam aprender", enfatizando as aptidões de raciocínio lógico, científico e linguagem. E quando penso nisso, a primeira coisa que vem à minha cabeça é a tal fórmula de Bhaskara. Quem, além do pessoal das exatas, usa Bhaskara?
Nesse ponto, Ken Robinson (sensacional, como sempre!) aborda em seus livros e palestras a existência de uma hierarquia do conhecimento em função de um modelo que agrega status às profissões consideradas formais. Áreas do conhecimento como artes, natureza e relações inter-pessoais são subvalorizadas em detrimento de outras áreas, consideradas mais cartesianas. E assim, as escolas prestam um desserviço à educação pois acabam coibindo a expressão da criatividade das crianças (assista aqui). Keith Sawyer, em uma de suas obras ensina de modo prático como explorar a criatividade, que já nasce conosco e perdemos com o passar dos anos. Mas isso é assunto para outra postagem.


Esse semestre tenho uma turma de estágio de educação física nos anos iniciais do ensino fundamental e uma coisa muito interessante é ouvir os acadêmicos reclamarem que as crianças não ficam paradas enquanto eles explicam as atividades. Ora, isso não existe mais!
As crianças ficam a semana toda, várias horas por dia, sentadas em classes dentro de uma sala de aula ouvindo um professor falar sobre coisas que muitas vezes não faz o menor sentido para elas. Não conseguem associar aquele conhecimento com algo prático, do seu cotidiano.
De modo sucinto, poderíamos dizer que nosso modelo de educação formal tem prazo de validade. Em relação a essa afirmação gostaria de pontuar, a seguir, dois fenômenos: o primeiro, oriundo de pais que questionam a capacidade de nossas escolas de educar crianças e jovens e outro, de instituições que optaram em mudar sua forma de abordar a educação das crianças.
A Desescolarização (Unschooling)
Desescolarização é um conceito sugerido pela primeira vez na década de 1970. Um dos principais proponentes é o filósofo e pedagogo austríaco Ivan Illitch (não o Ivan Illitch, personagem do Tolstói) que escreveu um livro chamado "Sociedade Sem Escola", em 1971. John Holt, outro autor considerado o pai da desescolarização, é crítico do modelo engessado das escolas. "Nós destruímos o amor por aprender das crianças, de forma tão forte, quando eles são pequenos, encorajando e impondo a eles o trabalhar por recompensas mesquinhas e desprezíveis, estrelinhas douradas, papeis marcados com 100 e pendurados na parede, ou A em cartões. Tudo isso para estimular a satisfação ou o sentimento de que eles são melhores que alguém", afirmou Holt certa vez.
A desescolarização parte da premissa de que crianças são aprendizes naturais e que a curiosidade deve ser incentivada no lugar de uma educação moldada para ser igual a todos.
Desescolarização é diferente de educação em casa. Na segunda, há um currículo de disciplinas a ser estudado e existe um horário para aprender e brincar. No unschooling não há momento específico de estudo.
Uma das precursoras do fenômeno do unschooling no Brasil é Ana Thomaz. Educadora, começou a desescolarização com Gutto, seu filho. Aos 12 anos, ele pediu para sair do colégio. "Fiquei com muita dúvida e receio. Achei que estivesse ficando louca mas algo me dizia que aquilo fazia sentido". Aos 14, ela concordou em tirá-lo da escola e relata que, embora tenha sido bastante difícil, pois exige dos pais grande quantidade de tempo livre e disponível para as ações educativas com seus filhos, não se arrepende.
Contudo, é importante lembrar que, segundo a legislação educacional brasileira (Lei nº 9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases - LDB) ainda não há respaldo legal para esse fenômeno, o que de certa forma, coloca os pais que optam por essa estratégia educacional, à margem da lei . Para quem quer saber mais sobre o movimento de desescolarização no Brasil, pode tirar algumas dúvidas aqui, aqui e aqui
Outra alternativa, considerada por muitos especialistas em educação como um caminho sem volta, é a modernização dos espaços educacionais. Para muitos pais e confesso que me coloco nesse grupo, a ideia de educar os filhos para as demandas da vida tem se sobreposto à necessidade de educar os filhos frente às demandas de trabalho da sociedade moderna. Desse modo, algumas instituições educacionais mundo afora têm literalmente copiado e até mesmo desenvolvido modelos inovadores de educação baseados no sucesso das escolas finlandesas, as quais prezam pela autonomia e independência dos alunos frente a problemas do cotidiano. Tudo isso sem deixar de lado aspectos fundamentais de matérias consideradas importantes para a formação pessoal das crianças e adolescentes.
Vocês terão uma ideia do que estou falando clicando aqui e aqui. Além de uma lista das 5 escolas consideradas mais inovadoras do Brasil, poderão identificar se esse tipo de mudança no paradigma educacional faz a sua cabeça...e do seu filho!
Afinal de contas, educar um filho não é moldá-lo na nossa forma!
Abaixo umas imagens de salas de aula e escolas com uma cara nova (na Finlândia, claro!), atraente e motivadora...nada daquela coisa de classes e carteiras enfileiradas.
Um forte abraço e até breve!
Boa leitura!
Roges

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Eu costumo fazer essa pergunta para muita gente, inclusive para meus alunos na faculdade.
Sabe por quê?
Simples!
O que você acredita que seja essencial para seu filho aprender?
Ao meu ver essa pergunta é a chave para a realização dos nossos filhos.
Tempos atrás fomos a Porto Alegre e quando passávamos em frente a UFCSPA disse ao Vicente:
- Filho, é aqui que o papai estuda!
- Nossa, que grande né papai.
- Sim.
- E vocês tem hora do conto?
- Não.
- Que triste!
Pra falar a verdade, não lembro de ter tido hora do conto quando era criança, embora isso não tenha me afastado da literatura. Entretanto, o tempo passa e as coisas mudam (graças a Deus!).
Vivemos em um tempo de inúmeras mudanças que ocorrem do dia pra noite. Sou um cara da geração X e meus filhos fazem parte de uma geração que, provavelmente, estará mais apta a lidar com conhecimentos diferentes daqueles que foram ensinados a mim e meus contemporâneos.
Assim como nós temos mais facilidade em alguns assuntos que nossos pais e avós, a gurizada da idade do Vicente e da Helena, provavelmente terá muito mais aptidão a lidar com conhecimentos mais dinâmicos do que eu e a Mara.
O interessante de tudo isso é que em pleno século 21 é possível notar uma certa nostalgia daquele "tempo em que a educação funcionava".
Seja no formato de apostilas pré-formatadas com todo o conhecimento "necessário" para as crianças em um ano letivo, (e há pais que reclamam quando as aulas não seguem o cronograma proposto) ou no formato de salas de aula com classes e cadeiras colocadas em fileiras, o modelo de educação formal segue sua saga, incólume.
Uma das razões para isso é que muitos dos profissionais de educação que estão na ativa não tem aptidão para mudar seu estilo de trabalho. Somos professores formados por professores que foram formados nos anos 60, 70. O modelo era baseado em um formato de educação hierárquico em que os professores decidiam o que as crianças "deveriam aprender", enfatizando as aptidões de raciocínio lógico, científico e linguagem. E quando penso nisso, a primeira coisa que vem à minha cabeça é a tal fórmula de Bhaskara. Quem, além do pessoal das exatas, usa Bhaskara?
Nesse ponto, Ken Robinson (sensacional, como sempre!) aborda em seus livros e palestras a existência de uma hierarquia do conhecimento em função de um modelo que agrega status às profissões consideradas formais. Áreas do conhecimento como artes, natureza e relações inter-pessoais são subvalorizadas em detrimento de outras áreas, consideradas mais cartesianas. E assim, as escolas prestam um desserviço à educação pois acabam coibindo a expressão da criatividade das crianças (assista aqui). Keith Sawyer, em uma de suas obras ensina de modo prático como explorar a criatividade, que já nasce conosco e perdemos com o passar dos anos. Mas isso é assunto para outra postagem.


Esse semestre tenho uma turma de estágio de educação física nos anos iniciais do ensino fundamental e uma coisa muito interessante é ouvir os acadêmicos reclamarem que as crianças não ficam paradas enquanto eles explicam as atividades. Ora, isso não existe mais!
As crianças ficam a semana toda, várias horas por dia, sentadas em classes dentro de uma sala de aula ouvindo um professor falar sobre coisas que muitas vezes não faz o menor sentido para elas. Não conseguem associar aquele conhecimento com algo prático, do seu cotidiano.
De modo sucinto, poderíamos dizer que nosso modelo de educação formal tem prazo de validade. Em relação a essa afirmação gostaria de pontuar, a seguir, dois fenômenos: o primeiro, oriundo de pais que questionam a capacidade de nossas escolas de educar crianças e jovens e outro, de instituições que optaram em mudar sua forma de abordar a educação das crianças.
A Desescolarização (Unschooling)
Desescolarização é um conceito sugerido pela primeira vez na década de 1970. Um dos principais proponentes é o filósofo e pedagogo austríaco Ivan Illitch (não o Ivan Illitch, personagem do Tolstói) que escreveu um livro chamado "Sociedade Sem Escola", em 1971. John Holt, outro autor considerado o pai da desescolarização, é crítico do modelo engessado das escolas. "Nós destruímos o amor por aprender das crianças, de forma tão forte, quando eles são pequenos, encorajando e impondo a eles o trabalhar por recompensas mesquinhas e desprezíveis, estrelinhas douradas, papeis marcados com 100 e pendurados na parede, ou A em cartões. Tudo isso para estimular a satisfação ou o sentimento de que eles são melhores que alguém", afirmou Holt certa vez.
A desescolarização parte da premissa de que crianças são aprendizes naturais e que a curiosidade deve ser incentivada no lugar de uma educação moldada para ser igual a todos.
Desescolarização é diferente de educação em casa. Na segunda, há um currículo de disciplinas a ser estudado e existe um horário para aprender e brincar. No unschooling não há momento específico de estudo.
Uma das precursoras do fenômeno do unschooling no Brasil é Ana Thomaz. Educadora, começou a desescolarização com Gutto, seu filho. Aos 12 anos, ele pediu para sair do colégio. "Fiquei com muita dúvida e receio. Achei que estivesse ficando louca mas algo me dizia que aquilo fazia sentido". Aos 14, ela concordou em tirá-lo da escola e relata que, embora tenha sido bastante difícil, pois exige dos pais grande quantidade de tempo livre e disponível para as ações educativas com seus filhos, não se arrepende.
Contudo, é importante lembrar que, segundo a legislação educacional brasileira (Lei nº 9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases - LDB) ainda não há respaldo legal para esse fenômeno, o que de certa forma, coloca os pais que optam por essa estratégia educacional, à margem da lei . Para quem quer saber mais sobre o movimento de desescolarização no Brasil, pode tirar algumas dúvidas aqui, aqui e aqui
Outra alternativa, considerada por muitos especialistas em educação como um caminho sem volta, é a modernização dos espaços educacionais. Para muitos pais e confesso que me coloco nesse grupo, a ideia de educar os filhos para as demandas da vida tem se sobreposto à necessidade de educar os filhos frente às demandas de trabalho da sociedade moderna. Desse modo, algumas instituições educacionais mundo afora têm literalmente copiado e até mesmo desenvolvido modelos inovadores de educação baseados no sucesso das escolas finlandesas, as quais prezam pela autonomia e independência dos alunos frente a problemas do cotidiano. Tudo isso sem deixar de lado aspectos fundamentais de matérias consideradas importantes para a formação pessoal das crianças e adolescentes.
Vocês terão uma ideia do que estou falando clicando aqui e aqui. Além de uma lista das 5 escolas consideradas mais inovadoras do Brasil, poderão identificar se esse tipo de mudança no paradigma educacional faz a sua cabeça...e do seu filho!
Afinal de contas, educar um filho não é moldá-lo na nossa forma!
Abaixo umas imagens de salas de aula e escolas com uma cara nova (na Finlândia, claro!), atraente e motivadora...nada daquela coisa de classes e carteiras enfileiradas.
Um forte abraço e até breve!
Boa leitura!
Roges

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